Chega Agosto, chegam as férias, mas voltam aqui ao tasco as Sugestões de Peso feitas pelo Dico.
Eleito nesta quinzena para representar as escolhas de CD’s da rubrica Sugestões de Peso,
Zoom Code, dos nacionais ThanatoSchizO, apresenta-nos uma banda amadurecida, que encontrou já o seu próprio estilo, erguido sobre uma pluralidade de texturas e sonoridades. Com efeito, a impressionante riqueza estilística patente em Zoom Code abarca ambiências progressivas, Doom, Death Metal e World Music, numa fusão perfeita, reiterando a já famosa tendência inovadora do colectivo de Santa Marta de Penaguião.
A tradicional ambivalência peso / agressividade versus melodia / plenitude nunca antes fora tão eficazmente explorada num álbum dos ThatatoSchizO. As vozes de
Patrícia Rodrigues e Eduardo Paulo soam irrepreensíveis, numa comunhão perfeita, sobre estruturas musicais que proporcionam ao ouvinte momentos de puro êxtase.
A veia experimentalista do grupo revela-se agora ainda mais exacerbada, através da inclusão de instrumentos pouco frequentes no Metal, com destaque para o violino (executado por Timb Harris, dos Estradasphere, em «L») e o acordeão (tocado por António Pereira nalguns temas). Produzido por Luís e Paulo Barros nos estúdios Rec’nRoll e masterizado por Tommy Newton na Alemanha, Zoom Code mostra-nos uma
banda em grande forma, no pico das suas capacidades.
Mas porque também gosto de variar nas sugestões da rubrica, apresento-vos pela primeira vez um DVD, neste caso
Metal: A Headbanger's Journey (
www.metalhistory.com/metal01.html,
www.myspace.com/metalhistory),
documentário resultante de uma apurada investigação do antropólogo canadiano Sam Dunn acerca das origens e impacto sócio-cultural do Som Eterno. Para cumprir esse desígnio Dunn visitou o Reino Unido, a Alemanha, a Noruega e os Estados Unidos na companhia de Scot McFadyen, guionista e realizador de cinema.
Estreado no Festival Internacional de Cinema de Toronto, no Canadá, em 2005, e lançado no ano seguinte em DVD simples e duplo, Metal: A Headbanger’s Journey constitui uma rigorosa investigação académica e jornalística, em que se tenta perspectivar, de dentro para fora – e de forma lúdico-didática -, a visão que os fãs de Metal em particular e a sociedade em geral têm do género.
Intensa e empolgante, a obra apresenta, no DVD 1, vários capítulos, que abordam assuntos como as origens do termo "heavy metal", as características da sonoridade, as suas raízes, o comportamento dos fãs, a cultura do estilo, a censura a que é submetido (com menção obrigatória ao PMRC), género e sexualidade (Glam Metal, machismo e o advento das bandas femininas são os temas abordados) ou religião e satanismo.
O DVD 2 apresenta a árvore genealógica do género, com a história dos vários subgéneros, um mini-documentário acerca do Black Metal norueguês (que aborda as origens do estilo, a mitologia nórdica e o satanismo, dando especial ênfase aos trágicos acontecimentos do início dos anos 90), a íntegra das entrevistas com músicos famosos disponíveis no DVD 1 e um trailer. Igualmente disponível está a banda sonora do filme, com 16 temas de outras tantas bandas.
Já a rodar nalguns cinemas europeus e não só está Global Metal (
www.globalmetalfilm.com/03/GM_03.html,
www.myspace.com/globalmetalfilm), a sequela de Metal: A Headbanger's Journey. Nesta segunda parte – ainda não disponível em DVD mas sobre a qual certamente falaremos quando chegar ao mercado – Dunn e McFadyen propõem-se conhecer o impacto cultural e social da música pesada em culturas longínquas. Para isso, os investigadores exploram as cenas metaleiras da Ásia, América do Sul e Médio Oriente.
Do Death Metal indonésio ao Black Metal chinês, sem esquecer o Thrash Metal iraniano, Global Metal apresenta uma enorme riqueza musical proveniente de sociedades reprimidas, dominadas pela fome, terrorismo, corrupção, fanatismo religioso e conflitos armados. O cenário ideal para a emergência de fervorosos cenários underground. Já disponível em duplo CD, a banda sonora do documentário inclui 18 temas. Mais informações em www.myspace.com/globalmetalsoundtrack.
Quanto aos livros, e porque nem só de metal vive o Homem, a escolha desta quinzena recai sobre
Não Sou o Único, biografia oficial de Zé Pedro, guitarrista dos Xutos & Pontapés, escrita por sua irmã, a docente universitária Helena Reis. Ideal para leitura de Verão, esta obra envolvente, apaixonante e minuciosa relata o fantástico percurso pessoal e profissional do músico, desde o nascimento até à maturidade, passando pela adolescência nos Olivais e os verões na praia do Vau.
Não sou o Único revela-nos as várias facetas do guitarrista: enquanto ser humano – acessível, apaixonado, curioso, sociável mas por vezes reservado -, enquanto profissional – jornalista, músico, DJ, animador de rádio, apresentador de TV, comentador de música, gestor do Johnny Guitar -, enquanto fã – são aqui relatadas as deslocações a Paris para ver os Metallica e a Nova Iorque Iorque para ver os Rolling Stones - ou enquanto familiar / amigo ausente mas sempre presente.
Misto de felicidade e drama, a vida de Zé Pedro é inspiradora. Nesta obra dissecam-se a ascensão, queda e nova ascensão dos Xutos & Pontapés; a toxicodependência, que praticamente matou o guitarrista e deixou mazelas irreversíveis; as relações amorosas com Ana Godinho e Xana (vocalista dos Rádio Macau), que marcaram a sua vida para sempre; o consumo de álcool, apelo (quase) irresistível da vida na estrada; e a morte de familiares e amigos. Um livro essencial para fãs e não só.
Texto: Dico -
Por motivos de férias do autor, a rubrica Sugestões de Peso regressa apenas a 26 de Agosto.
O lançamento de The Noble Search acontecerá em meados do mês de Outubro. No Caos Emergente poderão certamente ser ouvidas músicas novas.
O lançamento de The Noble Search acontecerá em meados do mês de Outubro. No Caos Emergente poderão certamente ser ouvidas músicas novas.
#1 Heir Apparent - The Servant (Graceful Inheritance, 1986) 
