Dois dias com muito metal, cerveja, calor e gente. Foi assim...
Metal GDL, dia 1 Os God foram os primeiros a subir ao palco, privilégio ganho após o concurso de Warm-Up do festival, que venceram.
Vindo da Roménia, o vocalista Castor acaba por influenciar todo o estilo da banda: folk pagan metal, nas suas próprias palavras. Musicalmente não trouxeram nada de novo, mas foi de louvar a originalidade de cantar em três línguas: romeno, inglês e português. Surpreendente também foi toda a componente teatral aliada aos God, que se apresentaram em palco vestidos como guerreiros e com a cara pintada. Começava assim a primeira noite do Metal GDL, com um concerto que não sendo espectacular, deixou alguns acordes nos ouvidos e deu para aquecer os ânimos e deixar os ouvintes com muita sede de metal (principalmente após a cover de “Alma Mater”, original dos Moonspell).
Seguiram-se os Requiem Laus. Este colectivo do Funchal já cá anda há vários anos, mas souberam-se manter “underground” o tempo suficiente para aperfeiçoarem e definirem o seu estilo musical. Ainda assim, talvez se tenham mantido tão underground que perderam a melhor oportunidade para se revelarem e darem um passo em grande, com algo novo e sólido. Infelizmente, acabaram por soar datados e por vezes aborrecido. Em foco estava o recém-editado “Eternal Plague”, que apesar de tudo, só vem mostrar que o metal está bem vivo na Madeira.
Foi após Requiem Laus que subiu ao palco aquela que foi, para mim, a surpresa do festival. Chamam-se Concealment, são de Sintra e apesar de já andarem por aí desde 1995, só o ano passado é que lançaram o seu LP de estreia, "Leak". E que estreia! Da altura da sua formação, trouxeram as influências e os ambientes de bandas como Cynic e Death e juntaram-lhe um pouco de metalcore. Foram 45 minutos de uma execução técnica irrepreensível e sem falhas. E a voz fazia, por vezes, lembrar Chuck Schuldiner. Aguarda-se o novo álbum, que segundo a banda será editado já em 2009.
Corpus Christii, senhores do melhor black-metal que por cá se faz, foram os seguintes. Nem o facto de estarem a actuar com um baixista de sessão os impediu de dar um concerto muito forte e muito intenso e que mostrou que os Corpus Christii eram uma das bandas mais aguardadas pelo público. Nocturnus Horrendus, mentor dos Corpus Christii, foi um monstro em palco (no bom sentido claro) e soube como ser o centro das atenções. "Rising" é a mais recente proposta da banda, mas isso não impediu que se focassem bastante em temas mais antigos. Totalmente intocável aquela hora em que os CC ocuparam o palco.
Apesar de por esta altura se começarem a colocar problemas de horários, com um atraso de cerca de meia-hora, começava-se a preparar o concerto de Men Eater. A banda setubalense parecia algo deslocada no cartaz, mas mal começaram a tocar deu para perceber que isso não era verdade. De facto, o público amontoou-se como ainda não o tinha feito em nenhum outro concerto. E os Men Eater não desiludiram: o seu prato forte continua a ser as guitarras fortes, que toavam ali entre o stoner e o sludge (maioritariamente). Pelo meio, tempo para mostrarem 3 temas novos, juntamente com músicas de "Hellstone". Por aquilo que se pôde ouvir, o novo trabalho da banda vai ser bastante poderoso, como uma linha algo diferente da de "Hellstone" (influências de Mastodon). Bastantes expectativas para a banda que se revelou em 2007.
Os The Firstborn – que são uma das minhas bandas preferidas – vieram logo a seguir. Foi pena o grande atraso com que se estava, o que acabou por dar a sensação de que todo o concerto foi muito rápido, rápido demais até, principalmente para uma banda que não tocava ao vivo há quase dois anos. Não seria este o regresso que idealizaram, mas ainda assim, entre clássicos e temas do próximo álbum (ainda não editado), a banda lisboeta tocou com classe e mestria. E convenceram. Havia imensa gente junto ao palco, que estava lá para os ver (como eu, por exemplo). E se Bruno Fernandes tinha algum receio em relação à forma como temas como “Flesh to the Crows” iam resultar ao vivo, pode perder esse receio completamente, pois os novos temas foram definitivamente um dos pontos mais altos da actuação. Valeu a pena e espero por uma próxima oportunidade e também pelo próximo álbum, "The Noble Search".
Nesta altura os músculos começavam a doer e comecei a acusar o facto de estar acordado há quase 20 horas. Lay Down Rotten tinha começado e quase que me passou ao lado. Mas o colectivo alemão acabou por me acordar e fazer-me ouvi-los com atenção. E ainda bem que o fiz, pois foi um grande concerto. A banda liderada por Daniel Jakobin, é completamente explosiva ao vivo. O mais puro death – metal saía das colunas a um volume bem alto e o público pedia mais e mais, de um concerto exemplar de excelentes executantes que se prolongou por cerca de uma hora e meia bem musculada. Venham eles outra vez e venha esse novo CD, que nós aguardamos.
Metal GDL, dia 2. Palco Viva o Metal e Palco Metal GDL a funcionar.
A primeira banda a tocar no segundo dia foram os Confront Hate. Infelizmente não consegui ver o concerto todo, só consegui apanhar a última música. O som pareceu mais alto que no dia anterior, mas a banda fez a festa e debitou a sua música com muito fervor e dedicação. Havia claramente mais espectadores do que à mesma hora do dia anterior, com os God.
Logo a seguir subiam ao palco os barcelenses The Ransack. Liderados por Shore, os The Ransack foram a surpresa do segundo dia e mostraram o bom death-metal que se faz no underground português. Eram notórias as influências de bandas clássicas como os Morbid Angel, mas também era possível ouvir algo refrescante e novo, que ao contrário dos Requiem Laus, não tornava o seu som datado. O público também parecia bem agradado, que entoou mesmo alguns refrões e respondeu à energia da banda com um moshpit intenso e bem visível.
Os Switchtense foram os senhores que se seguiram. De todas as bandas portuguesas que actuaram neste palco, foram provavelmente a que reuniu mais consenso e que tinha mais adeptos no público. O seu concerto foi o que se esperava: curto, mas cheio de energia e dedicação por parte da banda, que fez desfilar temas antigos e outros mais recentes, inclusive do álbum de estreia que será lançado ainda este ano, "Confrontation of Souls" de seu nome. O seu som varia entre o thrash (à la Slayer) e o hardcore. Valeu a pena e o público também achou, que continuava a aderir cada vez mais frente ao palco e que continuava a chegar ao recinto.
A inaugurar o palco Metal GDL estiveram os transmontanos ThanatoSchizo. Para quem nunca viu a banda, as palavras não chegam para descrever o seu concerto e muito menos a sua música. Por outro lado, quem já os viu, percebe o que eu quero dizer.
Se todas as bandas tinham um som bastante directo e bastante óbvio de identificar, o mesmo não se passa com os ThanatoSchizo. Embora a base seja o death-metal, são várias as influências na sua música, da folk ao hard-rock mais simples. A banda apresentou-se em boa forma (todos eles) e da sua set-list, constaram maioritariamente temas do novíssimo "Zoom Code". E esses temas resultam muito bem ao vivo, com muito poder e como que uma vida própria. Está em boa a forma a banda e de parabéns pelo seu excelente concerto.
Importa ainda assim dizer que este palco não tinha, de todo, o melhor som. Notou-se neste concerto e acabaria por se notar em todos os restantes concertos, principalmente em Krisiun.
De volta ao palco Viva o Metal, tocava a banda da casa, os "Seven Stitches". Foi notória a entrega e a diversão da banda em palco e, tal como os Switchtense, foram das bandas que mais fãs tinham no público. Mais uma mostra de como o underground português está vivo e bem vivo e continua a chegar a muita gente e a cada vez mais gente. O som dos "Steven Stitches" caminha entre o death-metal e o thrash, uma mistura que a banda conseguiu executar muito bem e com convicção.
No palco Metal GDL, logo após os Seven Stitches, começavam os brasileiros Krisiun. Muita expectativa em volta da banda de death-trash e estes não desiludiram quem por eles esperou. Foi um concerto poderosíssimo, rápido e intenso. Os Krisiun foram das bandas mais bem recebidas e acarinhadas pelo público e este fez questão de mostrar como gostam da banda com os braços no ar e com um moshpit infernal e constante. Alex fez questão reforçar várias vezes que era “muito bom estar entre os irmãos portugueses” e “falar a língua de Camões”. A expectativa foi – pelo menos para mim – superada e prejudicada apenas pelo som, que por vezes era altíssimo e com flutuações muito estranhas entre graves e agudos.
A encerrar o palco Viva o Metal encontravam-se os Hatesphere. Os dinamarqueses tinham dito que queriam ser os reis da festa e foram mesmo. Depois de dois concertos em 2003, os Hatesphere apresentaram-se em Grândola com um vocalista novo e com muito empenho e muito desejo de darem um excelente concerto. E deram mesmo. A banda de Peter "Pepe" Hansen e companhia deu um concerto de 40 minutos irrepreensível, quer a nível de entrega, quer a nível técnico. Foi possível ouvir temas antigos e principalmente temas do mais recente álbum "Serpent Smiles and Killer Eyes", com uma sonoridade que caminha entre o death-metal, o metalcore com algumas toadas de thrash. Ah, e com muito humor pelo meio também. O público não esmorecia e parecia cada vez mais enérgico e com vontade de festejar o Metal em grande.
E provavelmente o público estava também a aquecer para os grandes cabeças de cartaz do festival: os norte-americanos Devildriver. Formados por Dez Farfara após o fim dos Coal Chamber, os Devildriver têm uma sonoridade bem genérica; death-metal pode ser a sua base, mas acabam por torná-lo bastante crossover, misturando vários estilos, bem mais acessíveis que o de outras bandas deste festival, como os Krisiun ou os Lay Down Rotten. No entanto, grande parte das pessoas presentes no segundo dia estavam lá por causa deles e mal a banda de Dez Farfara começou a tocar, o público transformou-se completamente e entrou em êxtase por estar a presenciar o concerto de Devildriver. Uma set-list equilibrada, mas com pendor para temas do novo álbum "The Last Kind Words" e uma adesão a 100% da parte do público marcaram o concerto dos Devildriver. Ficou foi a faltar mais tempo, uma vez que o concerto durou apenas 45 minutos. Muito pouco para aqueles que eram o grande nome deste festival.
Neste segundo dia, os atrasos do primeiro dia não se verificaram tão claramente. No entanto, o som do palco Metal GDL não foi o melhor. E, aquilo que para mim foi pior, enquanto os Hatesphere ocupavam o palco Viva o Metal, os Devildriver decidiram fazer um segundo soundcheck (após o efectuado durante a tarde e bem longo), que ecoava para os lados do palco em que actuavam os dinamarqueses.
Em suma, o Metal GDL está de parabéns. Esta não pareceu apenas a 3ª edição. Embora se possam melhorar algumas questões de stage management, todos pareciam satisfeitos com o recinto, com as infra-estruturas e com a cerveja.
A organização esteve impecável e está de parabéns por ter conseguido trazer tanta gente a um festival com 80% de bandas portuguesas. É graças a festivais como este que se continua a fazer bom metal em Portugal, porque o metal precisa de ser tocado ao vivo, para um público sedento como o que esteve em Grândola. É graças a festivais como este que as pessoas se apercebem que o underground em Portugal está bem vivo e mais prolífero do que nunca. Posto isto, venha a quarta edição que eu lá estarei.